Auto da Barca do Inferno, por Gil Vicente

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Escrita em 1517, durante a transição entre Idade Média e Renascimento, o Auto da Barca do Inferno, é uma das obras mais representativas do teatro vicentino. Como em tantas outras peças, nesta o autor aproveita a temática religiosa como pretexto para a crítica de costumes. É uma das peças mais famosas do dramaturgo. Segundo a edição original, foi composto para contemplação da sereníssima e muito católica rainha Lianor, nossa senhora, e representado por seu mandado ao poderoso príncipe e mui alto rei Manuel, primeiro de Portugal deste nome.

  • 1º Gil Vicente, ao apresentar seu Auto da Barca do Inferno, utiliza a expressão “auto de moralidade”, com a qual os historiadores da literatura designam algumas produções do final da Idade Média em que os personagens (alegóricos) personificam exclusiva ou predominantemente idéias abstratas dispostas entre o Bem e o Mal. Pouco tempo antes, a palavra francesa moralité era empregada para designar obras poéticas de caráter didático-moral, tal como, a nosso ver, o termo deve ser entendido na obra.
  • 2º Em seguida, o escritor julga necessário declarar o argumento utilizado para compor a trama. As almas, após se libertarem de seus corpos terrestres, dirigem-se a um braço de mar onde dois barcos as esperam: um deles, conduzido por um Anjo, levará as almas ao Paraíso e outro, tripulado pelo Diabo e seu Companheiro, dirige-se ao Inferno. E de se supor que o porto em que estão as barcas seja o Purgatório.
  • Primeira das três “barcas” escritas por Gil Vicente, a do Inferno tem como personagens almas de representantes das variadas classes sociais e de algumas atividades diversas, além de quatro cavaleiros cruzados (NO LIVRO É REPRESENTADO 3). Cada personagem é julgada e condenada ao seu destino, embarcando em companhia do Diabo ou do Anjo.
  • Foi escrita em versos rimados, fundindo poesia e teatro, fazendo com que o texto, cheio de ironia, trocadilhos, metáforas e ritmo, fluísse naturalmente. Faz parte da trilogia dos Autos da Barca (do Inferno, do Purgatório, do Céu).

Temática

  • Sátira social – Esta obra tem dado margem a leituras muito resumidas, que grosseiramente nela só vêem uma farsa. Mas se Gil Vicente fez a análise impiedosa das “doenças” que corroíam a sociedade em que viveu, não foi para ficar por aí, como nas farsas, mas para propor um caminho decidido de transformação.
  • Esta obra retrata um pouco do que era a sociedade portuguesa do século XVI, e apesar de este auto se designar como o Auto da Barca do Inferno, este é mais o auto do julgamento das almas. Talvez tenha este nome pois quase todas as personagens têm como destino a Barca do Inferno.
  • Na peça, é clara a intenção do autor em expor de forma satírica e despojada os grandes vícios humanos. A forma encontrada para isso reside nos personagens, ou melhor, nas almas que se apresentam no porto em busca do transporte para o outro lado, dentro da visão católica e platônica de céu e inferno.
  • Auto da Barca do Inferno, de Gil Vicente,é um auto onde o barqueiro do inferno e o do céu esperam à margem os condenados e os agraciados. Os que morrem chegam e são acusados pelo Diabo e pelo Anjo, mas apenas o Anjo absolve.

Estilo

  • Obra escrita em versos heptassílabos, em tom coloquial e com intenção marcadamente doutrinária, fundindo em algumas passagens o português, o latim e o espanhol. Cada personagem apresenta, através da fala, traços que denunciam sua condição social.

Estrutura

  • Como já citado, a peça se caracteriza como um auto, designação genérica para peças cuja finalidade é tanto divertir quanto instruir; seus temas, podendo ser religiosos ou profanos, sérios ou cômicos, devem, no entanto, guardar um profundo sentimento moralizador. O auto não tem uma estrutura definida, não estando dividido em atos ou cenas, é uma peça teatral em um único ato, subdividido em cenas marcadas pelos diálogos que o Anjo ou o Diabo travam com os personagens.

Cenário

  • Um ancoradouro, no qual estão atracadas duas barcas. Todos os mortos, necessariamente, têm de passar por esta paragem, sendo julgados e condenados ou à barca da Glória ou à barca do Inferno.
  • A peça tem seu início quando as almas chegam subitamente a um rio (ou braço de mar) que, forçosamente, todos os mortos terão de atravessar, não sem antes sofrerem um julgamento.
  • Ao que tudo indica, o cenário da peça era rudimentar, possivelmente um salão (quarto) e alguns poucos móveis e panos. A mímica tem lugar de destaque, servindo de marcação e de direcionamento da ação.

Auto da Barca do Inferno: os personagens

Anjo: arrais, ou seja, navegante da barca celeste.
Diabo e seu companheiro: conduzem a barca infernal. 
Fidalgo:
 representa todos os nobres ociosos de Portugal. 
Onzeneiro:
 simboliza o pecado da usura e a classe dos agiotas. 
Parvo
: representa o povo português, rude e ignorante, porém bom de coração e temente a Deus. 
Frade:
 representa os maus sacerdotes. 
Brísida Vaz:
 alcoviteira (cafetina), simboliza a degradação moral e a feitiçaria popular. 
Judeu:
 representa os infiéis, que são alheios à fé cristã. 
Corregedor e Procurador:
 encarnam a burocracia jurídica da época. 
Enforcado:
 é o símbolo da falta de fé e da perdição. 
Quatro Cavaleiros:
 representam as cruzadas contra os mouros e a força da fé católica.

O resumo da obra “Auto da Barca do Inferno”, de Gil Vicente, está disponível no site: http://vestibular.uol.com.br/resumos-de-livros/auto-da-barca-do-inferno.htm

Questão de Vestibular:

1= (FUVEST) Diabo, Companheiro do Diabo, Anjo, Fidalgo, Onzeneiro, Parvo, Sapateiro, Frade, Brígida Vaz, Judeu, Corregedor, Procurador, Enforcado e Quatro Cavaleiros são personagens do Auto da Barca do Inferno,  de Gil Vicente. Analise as informações abaixo e selecione a alternativa incorreta cujas características não descrevam adequadamente a personagem.

(A)O Onzeneiro idolatra o dinheiro, é agiota e usuário; de tudo que juntara, nada leva para a morte, ou melhor, leva a bolsa vazia.

(B)O Frade representa o clero decadente e é subjugado por suas fraquezas: mulher e esporte; leva a amante e as armas de esgrima.

(C)O Diabo, capitão da barca do inferno, é quem apressa o embarque dos condenados; é dissimulado e irônico.

(D)O Anjo, capitão da barca do céu, é quem elogia a morte pela fé; é austero e inflexível.

(E)O Corregedor representa a justiça e luta pela aplicação integra e exata das leis; leva papéis e processos.

Gabarito:
1= Alternativa correta: E – O Corregedor representa a justiça e luta pela aplicação integra e exata das leis; leva papéis e processos.

 

Fontes Bibliográficas:

Personagens “Auto da barca do Inferno”: http://guiadoestudante.abril.com.br/estudar/literatura/materia_409128.shtml
Resumo da obra: http://vestibular.uol.com.br/resumos-de-livros/auto-da-barca-do-inferno.htm
Clickideia: Gil Vicente

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